A redescoberta da moda seminova no Brasil e o boom dos brechós
- rafagdionello
- 11 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2024
Economia circular gira com brechós, que devem a crescer de 15% a 20% até 2030; Pesquisa afirma que compradores gostam do fator sustentável
O mundo da moda e seu mercado vem passando por uma transformação. Isso se deve graças a uma nova forma que o consumidor vem se relacionando com as roupas no seu guarda-roupa, ação que tem impulsionado um forte crescimento de moda seminova no Brasil nos últimos anos também promovido pelo interesse na economia circular e no desenvolvimento sustentável.
Esse fenômeno se deve por alguns fatores: itens com custo-benefício melhor do que no varejo tradicional; a repaginação dos seminovos; e a crescente preocupação com sustentabilidade na indústria da moda. Segundo um estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) junto ao enjoei, plataforma de revenda de artigos de moda seminova no Brasil, para estudar em profundidade o mercado brasileiro e entender os motivadores deste consumo emergente aponta que até 2030, mercado de itens de moda usados pode crescer de 15 a 20%, ultrapassando o valor do mercado de fast fashion.

Conversei com a Natália Adachi, fundadora da Guru de Brechó e com experiência há mais de 13 anos no nicho second hand, que falou mais sobre como ela vê essa mudança do mercado: “A pandemia acelerou esse segmento de segunda mão, porque as pessoas começaram a olhar de uma maneira mais consciente para o que de fato, elas compravam e usavam e o que estava parado no guarda-roupa”, começou.
Quase 40% dos entrevistados do estudo declararam vender suas roupas para “passar para frente” peças que estavam paradas e podem ser ressignificadas em novos lares, 34% desejam liberar espaço e 29% veem ainda um fator de sustentabilidade associado a esta ação.

Ainda conforme dados de estudo sobre Moda Sustentável do BCG, 70% dos compradores em brechós afirmam gostar do fator sustentável que ronda o consumo — aumento de 12 pontos percentuais comparado aos 62% registrados em 2018. “Com essa pesquisa do enjoei a gente está vendo que sim que o Brasil é tão bom quanto o mercado europeu, o mercado americano que a gente não está para trás, a pesquisa mostra que em breve que até 2028 mais ou menos o mercado de segunda mão vai representar até cinquenta por cento no guarda-roupa das pessoas”, afirma Adachi.
As visitas aos brechós não são de hoje, mas não podemos negar que as redes sociais tiveram seu papel importante no crescimento da popularidade dos brechós, que vem estimulando cada vez mais pessoas a buscarem empreender nesse segmento. No Brasil há cerca de 118 mil brechós, segundo o Sebrae.
O Guru de Brechó inclusive nasceu após Adachi, que trabalhou em um dos maiores brechós de São Paulo pedir demissão na época da pandemia: “Achei que ia ser um ano sabático. Pelo contrário, quando eu postei nas redes sociais que eu tinha pedido demissão começaram a me pedir consultoria mentoria sobre gestão de brechós”, começou, “Hoje eu trabalho também como uma influenciadora nesse segmento, só que eu trabalho não como influenciadora de moda, nada disso, influenciadora voltada para donas de brechó”, contou.
“Hoje quando a gente olha o mercado de brechó, são empresas que têm mulheres empreendedoras na maioria das vezes à frente. Elas têm também todo um cuidado, uma curadoria com as peças. Uma seleção de peças vai ter um valor mais alto do que bazar, mas o brechó hoje em dia é igual a qualquer outra loja. Eu até brinco que quando você compra uma roupa de uma marca legal, essa roupa nem vem lavada. E quando você compra em brechó, normalmente essa peça já foi lavada várias vezes”, brincou Natália ao falar sobre o cuidado que envolve a seleção das roupas de um brechó.
Ao buscar alternativas para diminuir a produção de novos artigos, a ressignificação de usados e a mudança de mentalidade dos consumidores são considerados pilares-guia na transformação do mercado de moda. Tudo se inicia com o entendimento da necessidade de venda de suas peças. Hoje, o consumidor enxerga que seu guarda-roupas é fluido e para a Natália isso não é diferente: “Tudo que já foi tendência volta, a gente sempre vê esses de peças ou tendências, voltando estilo de determinada época. Então hoje em dia basicamente tudo que você quiser, em brechó, você consegue achar de tudo”.

Falando de sustentabilidade, ela ressaltou como o brechó é a principal forma de garantir que aquela roupa tenha realmente um fim sustentável: “O brechó é um dos poucos negócios que é sustentável realmente porque tudo que a gente, por exemplo, eu fiz faculdade de moda e por mais que eu quisesse ter uma marca sustentável a partir do momento que você produz algo já não é tão sustentável. Assim, o brechó dá um novo ciclo de vida para os produtos, porque você já tem o produto e o negócio sustentável. Claro. A gente está falando aqui de produção. Mas o negócio sustentável precisa ser sustentável em todos os aspectos e também na questão social cultural”, disse.
Nos Estados Unidos, só em 2020, o número de pessoas que compraram itens de moda de segunda mão pela primeira vez foi de 33 milhões. A maioria desses consumidores são jovens - millennials e a geração Z - impulsionados e engajados em mídias sociais – a hashtag #secondhandfashion tem mais de 54 milhões de visualizações no Tik Tok. Um mercado forte de roupas seminovas permite que o consumidor se sinta ativo e inserido na economia circular.
A empresária então falou sobre sua visão sobre o futuro dos brechós aqui no Brasil: "Eu realmente acredito que o presente já é os brechó, o futuro vai ser mais brechó ainda uma coisa que eu costumo falar é quando a gente olha o mercado internacional e até agora o nacional os brechós estão cada vez mais se profissionalizando. Por isso que a empresa existe o slogan da minha empresa é transformando preciosas empresas. Então o mercado ainda é um oceano azul, mas para sobreviver nesse mercado, precisa se profissionalizar”, começou.
“Crescer escala e hoje, quando a gente olha os maiores brechós do país e até os maiores do mundo, eles têm grupos por trás. Eles fazem parte de grandes conglomerados de moda. Aqui no brasil a gente tem alguns ou brechós já estão listados em bolsas de valor. Então isso é algo muito importante para se analisar porque a questão da sustentabilidade brechó é um dos caminhos”, finalizou.
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