Como Copenhague Está Inspirando Mudanças no Calendário Fashion Global
- rafagdionello
- 11 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
A sustentabilidade no mundo da moda vem alcançando cada vez mais espaço e dessa vez chegou às passarelas. Apesar de ainda estar se consolidando no calendário do mercado da moda, a Copenhagen Fashion Week se tornou referência de compromisso com meio ambiente e quando o assunto é sustentabilidade, a capital dinamarquesa dá um show à parte.
Apesar de Nova Iorque, Londres, Milão e Paris seguirem como as capitais da moda, o polo fashion na Escandinávia chama atenção por ter o meio ambiente como o principal pilar do evento. A semana de moda inclusive conta com uma lista de "requisitos de sustentabilidade" que precisam ser seguidos por todas as marcas que integram - ou desejam integrar - o evento.
A organização do evento assina a Carta Ética da Moda Dinamarquesa e está comprometida com a redução de emissões de gases do efeito estufa, além de compensar as emissões inevitáveis. Seu "Plano de Ação", como foi batizado, permite apenas que marcas "cujos esforços de sustentabilidade cumpram os padrões mínimos" sejam consideradas para desfilar no evento. Entre os critérios do documento estão:
Estratégias socioambientais;
Processos de contratação que promovam diversidade e inclusão, especialmente em cargos de liderança;
Não destruir roupas que não foram vendidas ou amostras de coleções anteriores;
Foco na qualidade e vida útil dos produtos (e deixar o cliente ciente de tais dados);
Escolha inteligente de materiais que possam ser reparados, reciclados ou reutilizados;
Ao menos 60% da coleção deve ser certificada, feita de materiais preferenciais ou parados no estoque;
Não usar embalagem plástica descartável na produção das vitrines e descartar corretamente todos os resíduos.
Embora possa soar como ambiciosa, principalmente em um momento em que as visualizações influenciam o consumo desenfreado e a produção crescente para acompanhar trends, as metas já foram alcançadas na edição, que aconteceu em setembro de 2023, com grifes locais trazendo inovações para as passarelas.
Na última temporada, o Brasil mostrou que sabe fazer bonito quando o estilista gaúcho João Maraschin, desfilou sua coleção batizada de "Road Trip", em agosto de 2024, e reuniu itens básicos de luxo reeditados usando fibra de garrafa reciclada Repreve, pulôveres oversized feitos à mão em lã resinada, peças artesanais em macramê, além de croche feito com corda de algodão, fio de rede de pesca reciclado e resíduos de tear industrial.
Foto: Divulgação
A indústria de luxo vem passando por esse momento de transição onde buscam pelo green junto dos “três R'S”: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Grifes como Balenciaga mostraram na passarela peças criadas sob esse conceito e em paralelo, a Miu Miu lança coleções cápsulas upcycled.
Na Balenciaga, o diretor de criação Demna Gvasalia reaproveitou lingeries para dar forma ao vestido que fechou o desfile de outono-inverno 2024/2025. “Queria que representasse um elo entre o passado e o futuro da Balenciaga como uma casa baseada no valor criativo”, disse o estilista.

No início do ano, Miu Miu lançou sua quarta coleção cápsula upcycled -desta vez, de denim, em que foram utilizados jeans de antes do ano 2000 — além de ser encontrado em quantidade abundante, é uma matéria-prima resistente. A marca ainda fez uma parceria com o Aura Blockchain Consortium, uma associação sem fins lucrativos que promove a transparência e práticas comerciais centradas no cliente ao longo do ciclo de vida dos produtos de luxo, aproveitando o blockchain e outras tecnologias.
Miu Miu Upcycled Denim - Foto: Jet Swan
Para Yamê Reis essa onda de sustentabilidade nas semanas de moda possuem um papel importante no calendário e não se limitam só em Copenhague e sim mais perto de nós do que imaginamos: O Brasil Eco Fashion Week, que acontece em São Paulo.
“São eventos que delimitam quem pode participar do evento, então existem existe um regulamento de premissas que você tem que cumprir né é um percentual alto de fibras naturais ou de materiais recicláveis um percentual alto de diversidade dentro das empresas um percentual alto de reciclabilidade dos seus resíduos enfim uma série de quesitos que são exigidos para que essas empresas possam estar nos eventos né sem falar em casting em lixo zero no evento uma série de premissas que são muito importantes então acho que Copenhague é no exterior e o Brasil Eco Fashion Week aqui eles lançam uma luz importante”.
Fundadora do Rio Ethical Fashion, ela falou mais sobre as iniciativas de trazer a moda sustentável em grandes eventos aqui no Brasil: “Eu entendi que esse debate estava muito inicial ainda no Brasil e que a gente precisava conhecer iniciativas que estavam sendo levadas em outros países com muito sucesso e também as iniciativas que no Brasil estavam acontecendo como na agroecologia, na plantação do algodão, nos desafios da diversidade de corpos, de peles”, começou contando.
“Empresas como a Vivian Westwood que já tinha um histórico de parcerias com comunidades na África. Então a gente colocou isso tudo no palco e foi muito incrível esse debate. A gente executou um teatro com 800 lugares e foi muito incrível e foi realmente um pontapé onde essa comunidade se encontrou, de fato, né, para continuar. Começar a debater esses temas que são tão urgentes”, finalizou ressaltando a importância do debate.
Comentários