O Preço do Algodão Brasileiro: Violação de Direitos e o Mito da Sustentabilidade
- rafagdionello
- 26 de nov. de 2024
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De acordo com uma investigação da ONG Earthsight, publicada em abril deste ano, grandes marcas, como a espanhola Zara e a sueca H&M, estão envolvidas no desmatamento e em diferentes tipos de violação na Amazônia e no Cerrado, por meio do algodão obtido no país. Essa investigação anda lado a lado do fato que em 2024, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos na produção de algodão, ocupando a terceira posição mundial, atrás apenas da China e da Índia.
Yamê Reis, autora do livro “O agronegócio do algodão” falou sobre a origem desse algodão no nosso país e a problemática contra a sustentabilidade: “O algodão brasileiro ele é plantado no consórcio junto com a soja. Ele tem todos os problemas que essa cadeia da soja tem, que é desmatamento, é ilegalidade de conflito de terra, ele não pode ser considerado sustentável”, disse em entrevista por telefone.

A posição é fruto de um esforço conjunto dos produtores de algodão e da indústria agroquímica para conquistar benefícios financeiros para investimentos em tecnologia, isenções fiscais e apoio institucional, que facilitassem sua expansão e consolidação no bioma do Cerrado nos últimos 24 anos.
Em números gerais, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de todo o algodão exportado mundialmente, 44% vem do Brasil. Quando se fala da exportação, contudo, a indústria nacional já ocupa a primeira posição no cenário global, após um crescimento de 1,45 para 2,70 milhões de toneladas, entre 2023 e 2024.
Tal como a soja e o milho, o algodão é um dos motores de crescimento e rentabilidade do agronegócio, e adquire um status especial e diferenciado dos outros produtos pela “sustentabilidade”.
Porém esse cultivo em monocultura com uso intenso de fertilizantes e agrotóxicos, com expulsão do trabalhador do campo e sem beneficiar as comunidades locais não pode ser chamado de sustentável, já que viola os princípios básicos deste conceito.

Em seu livro a Designer de Moda e mestre em Sociologia Política investiga como podemos definir e estabelecer os parâmetros validadores do conceito de sustentabilidade na agroindústria do algodão, e que têm impacto na indústria da Moda:
“O algodão plantado em monocultura no Brasil que não seja orgânico, não é sustentável. O único algodão sustentável que a gente tem é o algodão da agroecologia que é plantado sem agrotóxico sem veneno e por pequenos produtores familiares que plantam o algodão junto com outros produtos para segurança alimentar”, continuou.

Na obra ela afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável é amplamente utilizado pelos setores produtivos para seu posicionamento e conquista de novos mercados. O atributo da sustentabilidade é apropriado pelos agentes econômicos do agronegócio do algodão como estratégia de conquista de mercado nacional e internacional, e também para forjar um posicionamento enquanto grupo social modernizador da economia nacional.
“A sustentabilidade é um tema que está ganhando mais peso hoje na indústria, mas ainda é muito lento o avanço é muito pequeno. Ainda se pensa muito no lucro, se isso realmente traz algum benefício e também o fato de como a gente fala antes sobre poder público na agricultura. O poder público tem também de incentivar as indústrias a fazer reciclagem, a comprar novos equipamentos e incentivar como? Dando isenção fiscal para quem quer trabalhar corretamente”, ponderou Reis.
“Então o poder público é muito responsável porque ele fomentou o agronegócio do algodão através de políticas públicas. Favoreceram investimentos, financiamento de compra de maquinário, financiamento para desenvolvimento de sementes transgênicas. O poder público precisa começar a investir no algodão sem agrotóxico, no algodão feito por essas comunidades agroecológicas, familiares”.
O relatório publicado na primeira metade de 2024, que foi chamado de “Crimes da Moda” que mostrou como as maiores varejistas do mundo usam do algodão brasileiro e usam algodão brasileiro certificado Better Cotton - ligado a grilagem de terras, desmatamento ilegal, violência, violações de direitos humanos e corrupção. Por meio de vasta documentação, a investigação rastreou o algodão desde as fazendas SLC e Grupo Horita no oeste da Bahia, passando pelas fiações e confecções asiáticas, até chegarem nas lojas da Europa.
Certificações são uma ferramenta essencial de garantia de rastreamento de origem de produtos sustentáveis, trazem confiança aos consumidores de que a cadeia produtiva é ética, respeita os Direitos Humanos e o trabalho digno. Porém, o que estamos vendo é que no caso da Better Cotton.
O Brasil é o maior consumidor do maior mercado de agrotóxicos do planeta. E o algodão, é a cultura que mais consome agrotóxico. Ele consome mais ou menos 10% de todo o tecido do país. Dentre esses agrotóxicos, o mais usado é o glifosato, que é famoso por todos os danos que ele causa à saúde, como câncer, aborto espontaneo e varios outros problemas.
Cabe a marcas de moda brasileiras ou gringas comprometidas com a sustentabilidade e a responsabilidade socioambiental devem perguntar de onde vem o algodão brasileiro e como ele foi produzido, mesmo que ele tenha a certificação Better Cotton ou ABR.
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