O que é e como montar o seu guarda-roupa cápsula: A Arte de Fazer Mais com Menos
- rafagdionello
- 28 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Você já deve ter enfrentado o dilema de olhar para o seu guarda-roupa cheio de roupas e mesmo assim achar que não tem nada para vestir, não é mesmo? Isso acontece porque muitas vezes, quantidade não é qualidade, por isso, conhecer algumas estratégias podem te ajudar na hora de decidir o look do dia.
Uma delas é o guarda-roupa cápsula, um conceito que se refere a ter uma pequena quantidade de roupas que sejam essenciais e versáteis, que podem ser combinadas entre si para criar uma variedade de looks. Vem descobrir mais sobre o conceito, que além de te ajudar é super sustentável - ajudando o planeta.
Criado por Susie Faux, em 1970, na cidade de Londres, a ideia surgiu quando a dona da boutique “Wardrobe” notou que seus clientes estavam gastando dinheiro em muitas roupas, que não eram ideais para utilização no longo prazo.


O conceito criado por Susie e popularizado pela estilista norte-americana Donna Karan, em 1985, estabelece 7 peças como o número ideal. Isso porque a estilista criou a coleção “7 Easy Pieces” - composta unicamente por 7 itens: body, saia, jaqueta sob medida, vestido, peça de couro, camisa branca e suéter de cashmere. “Destinada a levar uma mulher ´do dia para a noite´ ou ´do escritório para a festa´.
Nos dias atuais essa prática é muito mais do que fazer o rodízio entre 10 peças em seu armário. Natália Peric, formada em design de moda e que trabalha com a Metodologia da Cápsula, é muito mais sobre fazer as pessoas olharem para dentro, a partir da sua relação com suas roupas, as emoções, as reações já que a moda mexe tanto com a gente.

“Buscar uma forma de levar esse, de me aprofundar e de levar para o mundo essa relação da moda, não mais uma relação apenas do consumo, de um sistema onde o consumo predomina, mas, acima de tudo, uma ferramenta para a gente olhar para dentro, a tudo aquilo que a gente usa e a nossa relação com o que a gente usa, com o desejo que é criado pela moda”, começou.
“A ideia do armário cápsula é uma ideia bastante geral, existem várias formas de trabalhar com ela”, explica a profissional que já participou de eventos como Fashion Revolution 2019, “Veio um pouco também daquela experiência, um ano sem zara, foi, né, uma fase aí que algumas pessoas, blogueiras, influencers, enfim, começaram a trazer essa ideia ligada à questão da sustentabilidade na moda, essa questão, né, de você consumir menos, usar mais do que você tem, ter um guarda-roupa muito essencial”, contou.
Focando na usabilidade das peças com o auxílio da criatividade e qualidade, o guarda-roupa cápsula também pode ser um aliado para aquelas que desejam melhorar sua relação com o consumo. A prática pode nortear novas aquisições e despertar a consciência na hora da compra.
“No caso da ferramenta que eu trabalho, que eu desenvolvi, eu até vou chamar ela de metodologia da cápsula, ela dialoga com esse universo questões ligadas à sustentabilidade, mas ela vem também do universo da consultoria de imagem”, diz Natália. “Você tem essa questão da coordenação de guarda-roupa, que é você fazer os conjuntos, os grupos de peças que se combinam entre si, para a pessoa já ter aquilo montado ele tem algumas flexibilizações hoje em dia possíveis, mas um conjunto de 10 itens que poderia gerar até 45 looks diferentes.

Ao considerar esses pontos, é possível balancear se fará uma boa aquisição ou apenas se tratar de uma compra movida por modismo ou impulso, da qual se arrependerá depois. Ele destaca ainda como aliada a preferência por itens de qualidade.
“Uma bolsa, um sapato, um lenço ou faixinha ou cinto, e um colar ou broche ou brinco relevante. Ou seja, esses itens, eles são bastante estratégicos, então a primeira coisa para fazer esse armário cápsula funcionar é que os itens têm uma característica para que dê certo esse resultado de se conseguir tantos looks”, contou.
Por que o guarda-roupa cápsula é uma prática sustentável?
A especialista ainda explica que o guarda-roupa cápsula parte da premissa, da ideia de você ter poucos itens e usar o que você tem e enfim, consumir menos. “Ter uma prática mais essencialista, isso dessa forma genérica”. Falando de consumo ético, ela ainda revelou o uso de brechós para sua consultoria em diversos casos.
“Eu ensinava as pessoas essa técnica, que se chama armário cápsula em brechó. Então, além de tudo, quando se trata de usar o conceito de armário cápsula da forma como eu uso e atrelar isso a brechó, você ainda tem duplamente essa ideia de uma coisa mais sustentável, que você tá reutilizando peças”, contou.

Além de trabalhar esses dois pontos, o guarda-roupa cápsula acaba trabalhando a criatividade da pessoa, que vai buscar dentro de seu armário já existente novas maneiras de se vestir, colaborando para uma relação mais saudável com o consumo.
“O consumo nos coloca numa posição de passividade, porque você tá simplesmente comprando ideias de outros que estão sendo constantemente bombardeadas e nos influenciando fortemente, a gente vai lá e consome como uma forma de satisfazer uma angústia que a própria publicidade, o próprio mercado, também nos insufla de alguma forma” pondera a profissional.
O desejo de consumir vem diretamente ligado a produção de endorfina do nosso corpo e da forma que os nossos neurotransmissores funcionam: “Diferente de quando a gente cria com aquilo que a gente já tem, eu sempre costumo falar que você quer ter roupa nova todo dia, e aprende a fazer o armário cápsula, a metodologia da cápsula, porque com um novo olhar para o que você já tem, você vai criar tantos looks novos que você nunca imaginou, que você vai ter roupa nova todo dia. E a satisfação duradoura, que é diferente desse pico de endorfina que o consumo traz”, diz.

Aderir ao guarda-roupa cápsula envolve um processo de reflexão e autoconhecimento, que vai muito além de simplesmente organizar roupas, essa metodologia propõe uma mudança de perspectiva, incentivando um olhar mais atento e criativo sobre o próprio guarda-roupa.
Além disso, o sucesso do guarda-roupa cápsula está ligado a entender o próprio estilo de vida, as necessidades reais e as peças que realmente funcionam. O consumo desenfreado é frequentemente impulsionado por idealizações e influências externas, levando a escolhas que, na prática, não se encaixam na rotina ou nos gostos pessoais. Com uma abordagem consciente, é possível evitar acumular itens desnecessários e priorizar a funcionalidade.
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