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Sustentabilidade x Fast Fashion: O Alto Custo Ambiental e Social da Indústria

  • rafagdionello
  • 11 de nov. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 28 de nov. de 2024

Você sabia que se a indústria da moda fosse um país, ela seria a sétima maior economia do planeta em 2021? Naquele ano 2,4 trilhões de dólares foram movimentados pelo mundo todo. Esse lucro exorbitante vem acompanhado cada vez mais desperdício de matéria-prima - tecidos que poderiam ser reutilizados - e altas emissões de carbono causando um impacto prejudicial irreversível ao meio ambiente. 


É fato que a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, além da emissão do CO2, cerca de 20% das águas residuais produzidas ao ano vem da moda, assim como a liberação de 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos. De acordo com pesquisa do Sebrae, só no Brasil, produzimos cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis anualmente e apenas 20% desse material é reciclado.


Além disso, todo ano, a indústria como um todo descarta em torno de US$ 500 bilhões em peças de roupas que vão direto para aterros e lixões, uma vez que estudos mostram que os consumidores são mais propensos a jogar fora roupas baratas do que roupas caras e atemporais.

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Foto: Charlie Engman


Grandes contribuidores para isso são as Fast Fashions, que promovem a moda mais barata e acessível as tendências do momento - produtos de baixa qualidade, fabricados em série a um baixo custo - que ocupam as prateleiras das lojas, promovendo o consumo desenfreado de itens baratos e pouco duráveis, tudo por uma tendência passageira.  


Para Yamê Reis, fundadora da Moda Verde, empresa de curadoria de conteúdo, mentoria e consultoria em projetos especiais para Moda Sustentável um dos maiores desafios da indústria é a contenção desses danos: “Eu acho que o maior desafio da indústria para a contenção, a redução das emissões, realmente é a redução da produção, a redução das sobras e a circularidade dos resíduos têxteis. O que você faz com essas sobras?”, questionou. 


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Yamê Reis - Reprodução: Internet


“Então para mim esse é o maior desafio, porque como indústria a gente tem um desafio de redução de emissões para que a terra estabilize em 1,5% de emissões, a indústria da moda é altamente poluente. Então para mim o maior desafio da moda é esse, como fazer a redução desses que hoje são calculados em torno de 6 a 10% de emissões. 10% de emissões do planeta”. 


O ritmo acelerado dos ciclos de tendências resulta em itens de vestuário projetados para uso rápido e descartável, muitas vezes usados ​​apenas uma ou duas vezes antes de serem descartados. Esse fenômeno contribui para o problema mais amplo de resíduos no setor da moda, especialmente no Sul Global, onde a maior parte desses resíduos acaba impactando negativamente os ambientes, comunidades e indústrias locais.

 

Um destino comum para tais roupas é o Mercado Kantamanto em Accra, Gana, onde, de acordo com a Or Foundation, cerca de  40% das roupas vão para o lixo. O fluxo de material e o espaço que esse material ocupa, em última análise, segue a dinâmica do poder colonial.


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Greenpeace (Kevin McElvaney) - Fardos de roupas usadas são coletados para envio para a Alemanha no mercado de Kantamanto, em Accra, Gana (outubro de 2023)


Greenpeace (Kevin McElvaney) - Fardos de roupas usadas são coletados para envio para a Alemanha no mercado de Kantamanto, em Accra, Gana (outubro de 2023)


Em matéria do Business of Fashion (BoF) publicada em agosto de 2024, a maior responsável por essa poluição atualmente é a Shein, gigante do mundo das fast-fashions, e que nos últimos três anos chegou perto de triplicar as emissões de gases poluentes e ultrapassou a Inditex, empresa proprietária da Zara, anteriormente a maior emissora entre os maiores nomes da indústria. 


A pegada de carbono da Shein, de 16,7 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono, é suficientemente grande para rivalizar com a emissão de vários países. O aumento ultrapassou até mesmo a impressionante taxa de crescimento das vendas da própria fast fashion. No último relatório de sustentabilidade da empresa, o CEO Sky Xu diz que lidar com as emissões é "particularmente crítico".


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Sacolas Plásticas da Shein - Reprodução: Internet

O relatório de sustentabilidade da Shein aponta para metas de redução de carbono e estratégias de reutilização de materiais, apesar disso o ciclo de produção e consumo desenfreado continua a dominar o mercado, com poucas iniciativas reais de circularidade sendo implementadas.


O modelo atual de fast fashion, no qual a Shein e outras marcas operam, não apenas contribui para a degradação ambiental, mas também explora recursos humanos. Fábricas em países em desenvolvimento são conhecidas por condições de trabalho precárias e salários extremamente baixos, o que levanta sérias questões sobre justiça social além da sustentabilidade ambiental. Portanto, se por um lado a moda acessível democratiza tendências, por outro, o custo real dessa acessibilidade é pago pelo planeta e por comunidades vulneráveis. 


Para o futuro da moda sustentável, Reis que também é idealizadora e fundadora do Rio Ethical Fashion, o maior Fórum Internacional de Moda Sustentável da América Latina, acredita que a moda precisa passar pela circularidade: “Ele tem que passar por modelos de negócios que não produzem novos produtos mas que usem os produtos já existentes através de revenda, através de remanufatura, através de marcas que possam fazer conserto, remendos, né? Muitos produtos são descartados porque têm pequenos defeitos, isso tudo tem que ser repensado”, falou. 


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Yamê Reis palestrando no Rio Ethical Fashion - Foto: Felipe Haua / Divulgação

Como coordenadora do curso de design de moda no Istituto Europeu di Design, a profissional ressalta a importância de introduzir a sustentabilidade desde o início do curso: “Ela é uma das primeiras disciplinas para que o aluno que está entrando nessa indústria é nesse mercado entenda quais são os impactos dessa indústria e consiga pensar em produtos que tenham um design sustentável, ou seja, que pensem no ciclo total de vida do produto, não apenas em colocar um produto no mundo, mas também pensar no final do ciclo de vida deste produto, o que a gente vai fazer com ele. Então, a gente pensa muito em produtos que têm muita longevidade, que são feitos com materiais naturais, com muita qualidade de durabilidade. A gente pensa também em que esses materiais e que esses produtos possam ser reciclados ou tenham uma nova vida. Através de um upcycling. Então, todo o curso de design, ele é pensado nessas soluções para prolongar o máximo possível o ciclo de vida útil dos produtos”.


E para isso existem iniciativas como o Upcycling, que vem transformando roupas velhas em novas peças, com um pensamento natural de aproveitamento máximo daquela peça. “Esse também é um papel que o consumidor tem que ter, de aceitar esses pequenos defeitos como uma, um processo, fazendo parte do processo de produção mesmo, né? E que não descarte que valorize os, esses produtos. Que consiga, a gente precisa ter mais negócios de conserto, de roupa, a gente tem que consertar mais as nossas roupas, reformar mais as nossas roupas, e todos esses modelos de negócio são muito importantes. Que proliferam para que a economia circular possa realmente ser o modelo dominante na nossa indústria. Eu acho que esse é o futuro que a gente quer na moda, na moda brasileira e global”, disse Yamê. 

 


 
 
 

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Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da PUC-SP com orientação do professor Fabio Cypriano

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